Queridos filhos: isto é o que eu quero que se lembrem sobre a vossa mãe

É fácil ter o sentimento de que estou a estragar totalmente a tal da maternidade. Alguns dias estou tão cansada que não consigo elaborar pensamentos ou frases coerentes. Estou cansada demais para brincar com os meus filhos. A minha paciência está à flor da pele. Estou certa de que, se alguém me pedir mais uma coisa, eu vou ter um ataque de nervos.

É como se eu passasse o dia todo a dizer aos meus filhos o que fazer: “bebe o  teu café da manhã!”, “Tira as tuas meias do chão!”, “Sê simpático com o teu irmão!”, “Para de jogar papel higiénico na sanita!”, “Por favor, pelo amor de Deus, faz o teu xixi dentro da casa de banho!”.

No final do dia, eu pergunto- me: “Estou a dar aos meus filhos uma boa infância? Existem momentos suficientes de alegria? O que eles vão lembrar-se sobre as suas vidas, sobre a sua mãe? Será que eles vão ver-me apenas como a pessoa que os alimentou, deu ordens e limpou os macacos do nariz? Ou como alguém que trouxe felicidade, tinha ideias interessantes para compartilhar, foi divertida, atenciosa e gentil?”.

Tenho certeza de que eles vão lembrar-se de tudo um pouco. É assim que eu me lembro da minha própria infância e dos meus pais. Lembro-me dos gritos, das lágrimas, das preocupações. Mas há certos momentos que ainda estão guardados como cristais, sempre belos para mim, momentos de pura felicidade e conexão. E espero dar alguns desses momentos aos meus filhos.

Eu quero que os meus filhos me vejam como uma mãe, em primeiro lugar, mas também como uma mulher, como ser humano imperfeito que falha. E com muito para oferecer a eles: amor que transborda para fora de mim livremente e sem pretensão.

Eu sei que ainda tenho um tempo antes da infância dos meus filhos se tornarem memórias distantes. E muitos anos ainda para que eu seja uma presença viva nas suas vidas (assim espero com todas as minhas forças). Quando penso nas nossas vidas agora, e o que eu quero que seja preservado para eles, é um pouco simples, coisas que eu não digo com palavras propriamente ditas, mas que eu espero que eles estejam “a absorver” e a arquivar nas suas mentes.

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No fundo o que as mães querem é uma coisa só: que os filhos sejam felizes.

Assim, meus filhos lindos, é isto que eu quero que vocês lembrem sobre a vossa mãe:

Eu quero que vocês se lembrem das noites que eu lhes disse repetidas vezes que estava cansada demais para fazer qualquer coisa divertida, mas, em seguida, às 7h da noite, num sábado, nós vestimos os nossos casacos por cima dos nossos pijamas e fomos até ao café, compramos coisas gostosas para comer e sentamos na varanda para sentir a magia da noite.

Eu quero que vocês se lembrem como eu vos dava colinho quando estavam doentes, abanando vocês nos meus braços, e cantando músicas que vocês gostavam de ouvir e se acalmavam, totalmente fora de tom, com um tom de voz baixo, até que adormecessem contra o meu coração a bater.

Eu quero que vocês se lembrem que não importa a razão, vocês podem entrar sempre no meu quarto! Se vocês tiveram um pesadelo, eu gostaria de segurar as vossas mãos até o sono chegar novamente.

Eu sei que vocês se lembrarão de como eu gritei, algumas vezes, sobre o que pareciam ser as coisas mais insignificantes. Mas também quero que vocês se lembrem de como eu sempre me desculpava por alguns gritos ou pelos motivos de algumas broncas desnecessárias.

Eu quero que vocês se lembrem das noites em que tivemos a sobra do almoço para o jantar, do macarrão feito em 5 minutos, ou do sanduíche improvisado. Espero que vocês se lembrem com carinho dessas noites e não como uma falha da minha parte para fornecer uma refeição equilibrada.

Quero que lembrem-se de mim como a mãe que sempre parou para olhar a lua e que curtiu muito um bom pôr do sol com vocês.

Eu quero que vocês se lembrem do meu colo macio, das pequenas rugas entre a minha testa, do meu cabelo (muitas vezes sujo), e do meu pijama preferido. Tudo natural, saudável, tudo que irradiava a palavra MÃE.

Quero que se lembrem de mim como uma mulher comum, uma mulher corajosa, uma mulher que falou sempre a  verdade para vocês e para os outros.

Eu quero que vocês saibam que tudo o que eu fiz, eu fiz por amor, mesmo as coisas que fiz errado.

Eu quero que vocês saibam que eu tentei. Eu tentei (e vou continuar a tentar sempre) tanto, e tudo o que eu mais quero é que vocês se sintam seguros e amados.

Eu sei que não posso criar as memórias que os meus filhos terão. Mas quero ter atitudes para que construam as suas infâncias e os seus próprios destinos com momentos agradáveis. Mas, no entanto, uma mãe pode ter desejos, certo? Pois eu desejo que eu consiga fornecer oportunidades para a felicidade autêntica dos meus filhos. Desejo que o que eu vejo como os meus próprios defeitos, os meus filhos apenas se lembrem de como eu agia, que eu dava o meu melhor, amando-os incondicionalmente.

Desejo que os meus filhos tenham lindas e alegres recordações de uma infância muito bem vivida.

Fonte: Wendy Wisner