Mães de bebés prematuros

Existe uma enorme expectativa com a chegada de um filho mas, nem sempre esse momento é cercado de magia, quando o bebé decide nascer bem antes do tempo, acaba por ser um momento difícil para as mães, mães de bebés prematuros. Culpa, frustração, medo e insegurança se misturam a palpites não solicitados disfarçados de ajuda.

Quem está de fora, não tem culpa. Mas entender a fragilidade do momento é fundamental para evitar comportamentos que tendem a piorá-lo. Aqui, três mulheres que passaram por essa situação entregam tudo o que as pessoas precisam saber sobre quem vive ou irá enfrentar o mesmo que elas.

“Sentimo-nos mães pela metade”

Esse foi o sentimento da micro empresária Juliana Alves de Moraes, 34, ao ter que sair da maternidade sem a filha Alessandra, hoje com 8 anos, nos braços. Por causa de uma pré-eclâmpsia [transtorno gestacional caracterizado pelo aumento da pressão arterial e inchaço] da mãe, a menina veio ao mundo na 29ª semana de gestação e precisou ficar 82 dias na UTI. “Deixar o hospital quatro dias depois do parto sem ela foi a pior situação que já vivi, dá uma sensação de impotência. Acabamos por sentir-nos mães pela metade ao deixar o bebê lá”, conta.

“Sentimos frustração e culpa”

Não poder viver o tão almejado ritual de visitas e apresentação do filho aos familiares e amigos também foi um processo bem duro à Juliana. “Não dei o primeiro banho, nem recebi os parentes no quarto. Só consegui pegar ela pela primeira vez nos braços depois de 45 dias”, relembra. “No começo, cheguei a sentir-me culpada pela condição da minha filha. Achava que tinha sido algo que eu tinha feito de errado. A nossa mente fica muito debilitada, é um sonho cortado pela metade. Ninguém engravida pensando em ter um filho prematuro.”

“É quase um luto”

A pedagoga e maquiadora Flávia Aline de Souza, 36, cuja filha nasceu de 33 semanas, precisou de tempo e de muito cuidado da família para conseguir digerir o momento. “É quase um luto. Você pensou em ter uma criança gordinha, mas aí não consegue nem amamentá-la”, conta. Durante o internamento da bebé, Flávia foi diagnosticada com hemorragia interna e também acabou sendo internada. As duas ficaram 13 dias sem se ver. “Fiquei tão deprimida, chorava todos os dias. Eu só queria levar a minha bebé para casa, mas não tinha nem pegado ela no colo ainda.”

“A sociedade cobra-nos filhos perfeitos”

“Nossa, como ele é magrinho.” “Por que tão pequeno?” “Está entubada?” “Calma, vai vingar.” Comentários como esses são frequentes às mães de prematuros e, mesmo quando bem-intencionados, reforçam o drama pessoal de cada uma. “São coisas que não devem ser ditas”, conta Juliana. “Já não basta o sofrimento, você começa a acreditar que não está dando o seu melhor pelo seu filho. Isso dói. Eles mostram o quanto a sociedade nos cobra por filhos perfeitos.”

A auxiliar de enfermagem Natalia Alves Barbosa, 27, que deu à luz na 32ª semana, sugere aos conhecidos apenas perguntar com cuidado sobre a saúde do bebé e não expressar opinião sobre ele. “Teve gente que questionou se minha filha ia sobreviver. Foi muito pesado”, conta. “O nosso maior medo nesse momento é o de achar que o bebé não sobreviverá à próxima visita.”

“Ficamos fartas de palpites”

A chegada do bebé em casa é um momento de extrema alegria, mas que exige cuidados. O problema é que eles costumam ser interpretados como mimo. “As pessoas querem nos ensinar a lidar com uma situação que nunca viveram. Toda criança prematura é frágil, tem baixa imunidade. Por isso exigem um tratamento especial de início”, conta Flávia. “Não se trata de uma superproteção à toa.”

“Somos fortes”

Apesar de todas as dificuldades, elas fazem questão de exaltar a força natural conquistada durante um processo como esse. “Eu não me achava tão forte ao notar minha filha entre a vida e a morte. Mas é importante acreditar que tudo vai melhorar. O amor é nosso maior motivador”, diz Flávia. Natália emenda: “por mais doloroso que seja, é passageiro.”