Desabafo de uma mãe  

Realmente, eu estou doida! Eu estou a viver no meu limite há tempos, eu estou a empurrar com a barriga a minha vida, a vida do meu filho, o meu relacionamento, as minhas amizades. Eu estou a viver um looping eterno, todos os dias é a mesma coisa, não dorme direito, levanta cedo, não tem tempo para comer, não tem tempo para fazer comida, o filho dorme, que glória, um tempo para mim!

 

Mas não, um tempo para tirar a poeira da casa, passar pano, lavar, limpar, e muitas outras tarefas de casa, pois tem um bebé aqui a casa tem que estar pelo menos em mínimas condições de limpeza, quando lembro que tenho que comer, preparar algo para comer…

 

O bebé acorda e a minha prioridade volta a ser ele. Eu já estou a pensar no que vai dar tempo de fazer no próximo cochilo. Será que consigo um tempo para mim?! Para a faculdade? Para refletir? Para descansar? Bom, não!

 

Quando tenho um tempinho, penso logo em terminar a arrumação, volto à cozinha, ponho as roupas para lavar, lembro que ainda não comi nada e o dia está a passar, faço alguma coisa ou como algo pronto quando tem, e o bebé já acordou de novo! Puxa!!! Só um cochilinho mesmo… Vamos lá, de volta à prioridade inicial.

 

O dia vai passando, entre fraldas e mamadas vai entardecendo, o bebé continua aqui nos meus braços, por uns minutos no carrinho, e pouquíssimo em qualquer outra superfície. Ainda tenho uma lista de coisas para fazer que não consigo fazer com o bebé, quem sabe no próximo cochilo consigo… Mas não consegui, eu precisava ir à casa de banho, comer mais alguma coisa, fazer um chá para acalmar e nisso lá se foi mais um cochilo do bebé, perdi mais um pouco do tempo “para mim”, os trabalhos da faculdade estão todos em atraso, o projeto que comecei continua lá, parado!

 

E a minha vida vai seguindo, arrastada. Em quatro meses de puerpério eu ainda quero desaparecer e fugir desta nova vida. Mas, não posso reclamar, é absurdo, eu acabei de ter um bebé forte e saudável, tenho que valorizar a vida dele e agradecer por isso e, sim, eu agradeço a Deus imensamente por este presente, mas sim, também estou a achar difícil a adaptação à nova demanda que esta mudança me trouxe.

 

Em suma, tem horas que só quero desaparecer e não ter que me adaptar a nada desta nova vida, o que não vai acontecer, já que obviamente, não consigo me afastar nem física e nem psicologicamente do bebé, com o tempo tenho certeza que vai ficar suave, que vou olhar para dentro de mim, que vou ter tempo de me cuidar, sei que vou sentir saudade de toda essa dependência, mas ainda está muito pesado, não é só sobre ” ter um bebé ” é sobre continuar sendo tu mesma e “cumprindo as suas obrigações” com um bebé.

É sobre perder totalmente a sua liberdade, chorar por não se sentir capaz de assumir tantas funções, é sobre o lado B da maternidade. Sobre estar física e emocionalmente cansada e ser julgada como quem “não faz nada”, ahhhh como eu queria que ficar em casa com o bebé fosse sinónimo de não fazer nada! É sobre a parte punk mesmo, sobre a solidão da maternidade, no meio de uma multidão ser só você e o bebé, sobre o acumular de tarefas, sobre o cansaço de ser mãe.

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Fonte: Camilla Amorim