À mãe da criança aos gritos no super-mercado:
Eu sei que estás envergonhada. Consigo ver nos teus olhos o desespero ao tentares levantar o teu filho histérico do chão. Estás vermelha, e vejo que prendes as lágrimas nos olhos para não correrem cara abaixo.
Tens umas calças elásticas pretas e uma t-shirt, e tal como eu, o cabelo com um ar de quem não vê pente há dias, embora o tenhas lavado e arranjado esta manhã. Eu sei que me viste a olhar para ti. Mas quero que saibas uma coisa: eu não te estava a julgar!
Eu não estou a pensar que deverias ter agido de outra forma, ou teres sido mais ou menos qualquer coisa. Eu não me estava a questionar porque é que trazes uma criança para o super-mercado, porque sei que não deves ter sítio melhor para a deixares.
Nem me estou a questionar porque é que não consegues controlar o teu filho. As crianças não são robots, são pessoas livres que, de vez em quando, também lhes salta a tampa, e por vezes em público.
Nem sequer estou a perguntar porque é que não és um mestre Jedy, que usa o poder da força para acabar de vez com essa birra. Não estou a perguntar porque é que o teu filho não te respeita ou não tem medo suficiente de ti para se calar no minuto que o mandaste calar, porque sei que não és nenhum “Putin”.
Queres saber o que é que estou a pensar enquanto olho para vocês?
Eu estou a pensar em quantas horas de sono terás dormido a noite passada. Aliás, quantas horas de sono terás dormido nos últimos dois anos.
Eu queria saber se, tal como o meu, o teu filho ainda acorda todas as noites a chamar, apesar de já ter tentado de tudo! Eu queria saber se o teu filho também acorda com as galinhas, a pedir para ver televisão e para tomar o pequenos almoço (que acabo por ser eu a comer porque não aguento ver mais comida desperdiçada).
Eu tento adivinhar quando terá sido a última vez que fizeste uma refeição completa sem teres um par de mãos em miniatura a tirar-te o prato ou uma criança ao colo. Provavelmente foi há muito tempo. Será que o teu pequeno almoço, tal como o meu, foi o resto das torradas dos miúdos e meia chávena de café? A outra metade estava fria, puseste a aquecer no micro-ondas e nunca mais te lembraste dela? Pois, eu também…
Será que ficas tão animada simplesmente por sair de casa, mesmo que isso signifique que o teu filho te vai pedir para comprar o corredor inteiro de brinquedos, vai descalçar os sapatos no carro, pedir para fazer xixi 200 vezes e passar metade do tempo a chorar enfiado no carrinho do supermercado?
Enquanto tentas pegar no teu filho aos gritos, pergunto-me se será a sua hora da sesta, e tal como eu, tentas fazer tudo o que precisas a correr para chegar a casa e pô-lo a dormir. E que anseias que não adormeça no caminho (claro que vai adormecer!) , e assim, em vez de teres uma tranquila hora de silêncio, vais ter uma tarde infernal de choro, drama, gritos, mais café à temperatura ambiente, isto tudo enquanto imaginas que a qualquer momento vais passar para uma bebida mais forte!
Gostava de saber se estarás tão surpresa como eu com o quão difícil é a maternidade, mas no entanto não mudarias nada!
Gostava de saber se amas os teus filhos mais do que pode ser descrito em palavras, e repetias tudo outra vez sem pestanejar. Menos a parte das birras!
Gostava de te perguntar se estás bem. Já levantaste o teu filho do chão e vais-te embora deixando o carrinho cheio de compras para trás. “I’ve been there!” Espero que os teus dias melhorem!
Acontece a qualquer uma. Basta ser mãe.
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Fonte: Stuffmomssay