O tempo…

O tempo…

“O tempo, pouco a pouco, irá libertar-me da extenuante fadiga de ter filhos pequenos, das noites sem dormir e dos dias sem repouso. Das mãos gordinhas que não param de me agarrar, que me escalam pelas costas e que me pegam. Do peso que enche os meus braços e curva minhas costas. Das vezes que me chamam e não permitem atrasos, nem esperas.

O tempo me devolverá os fins de semana calmos, as chamadas sem interrupções, o privilégio e o medo da solidão. Acelerará, talvez, o peso da responsabilidade que às vezes me aperta o diafragma. O tempo, certamente e inexoravelmente esfriará outra vez a minha cama, que agora está aquecida de corpos pequenos e respirações rápidas. Tirará dos lábios dos meus filhos o meu nome gritado e cantado, chorado e pronunciado cem mil vezes ao dia.

O tempo irá passar mas nunca esquecerei. Os “corre-corre”, os beijos nos olhos e os choros que de repente param com um abraço, as viagens e as brincadeiras, as caminhadas e a febre alta, as festas, as papinhas, as carícias enquanto adormecíamos lentamente. Que os alimentei, que os balancei durante horas, que os levei nos braços e às vezes pelas mãos. Que dei de comer e consolei, que os levantei depois de cem caídas. Que dormiram sobre meu peito de dia e de noite, que houve um dia que necessitaram tanto de mim, como o ar que respiram.”

Fonte: Mães com pinta

✍️ Laura Caldarola
Ilustração @o_trocatintas