Hoje ao acordar fui até a cozinha peguei uma xícara de café e involuntariamente fui até o espelho do quarto me olhar, não sei dizer se foi pela espinha nova que doía ou só a curiosidade devido aos meses que não me olhava com atenção!
Eu não me reconheci.
A franja gigante, o cabelo oleoso, as olheiras, o olho fundo, tudo ali cru e pulsante. Todo aquele cansaço que nunca imaginei que um dia daria conta de carregar estava ali pesado sobre minhas costas.
Senti saudades de quem eu era.
Durante a gestação lembro de ter conversado com diversas mães que me disseram que alguns dias eram bem mais difíceis que os outros e tudo bem. Então tudo bem, eu havia chegado em um dos meus.
Fechei os olhos e permiti lembrar de quem eu era, toda aquela energia, aquela vontade de engolir a vida, o brilho no olhar, o sorriso teimoso, abri o olho…Doeu.
Permiti relembrar da minha vida antes de parir e de todas as escolhas que tive que fazer. Senti saudade do apartamento que dividia com as amigas e do café na nossa sacada, lembrei dos meus amigos e da leveza dos dias que passávamos juntos, senti falta do meu trabalho, da minha independência, do tempo que tinha para mim, da minha cidade, senti saudade de tudo.
Não tinha percebido como é doído ter deixado tudo para trás.
Foi aí que chorei.
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Não me arrependo das minhas escolhas, mas isso não as tornam menos difíceis.
O bebê chora, dou o peito e fico refletindo o porque ele tem acordado tantas vezes durante a madrugada, me sinto exausta, percebo ele exausto e me pego sentindo inveja do meu companheiro que passa o dia no trabalho e volta só tarde da noite quando a calmaria já tomou conta do nosso apartamento.
Senti pelos banhos que ele toma de porta fechada, pelo almoço que come em paz, pelo ciclo de amizade que não mudou, pelo trabalho que ele não teve que abrir mão, senti o ciumes extremo ao perceber como a vida dele tinha sido bem menos abalada que a minha. Depois senti vergonha por ter sentido isso tudo dele.
O bebê termina de mamar e me olha intensamente, o bebê de vocês deve olhar vocês com alegria, acho que vocês sabem do que estou falando, mas isso também não torna tudo mais fácil.
Respiro fundo, levanto da cama e penso comigo: “É só mais um dia difícil!” E sigo com saudades de mim, de tudo, de todos.
No fundo do coração torço para essa exaustão amenizar e que eu consiga me redescobrir e me reinventar de todas as maneiras possíveis.
-Vai passar, né filho?
Ele sorri.
Guardo minhas dores no bolso e sigo com nosso dia.
Fonte: Camila Passini