“Querida filha:
Em aproximadamente uma semana, farás 4 anos. A tua vida é cheia de maravilhas e diversão. Tu amas princesas, fadas, My Little Pony, The Muppets, desenhar, cantar, brincar de faz de conta, dançar, chocolate, adesivos, livros e Snoopy. Tu dizes-me a tua opinião sobre tudo, e, ainda assim, de tempos em tempos, imploras para que eu te leve para a minha cama, fazendo uma petição para dormir comigo.
Tu ainda acreditas em contos de fadas e que, algum dia, tu poderias legitimamente (na tua cabeça) casar com o teu pai, ainda que já estejas a encarar algumas grandes questões da vida, como por que o papá não mora mais aqui?
Tu és grande o suficiente para lembrar que o papá, um dia, esteve nesta casa, quando nós três éramos uma pequena família. Tu és nova o suficiente e, um dia, isso será uma memória distante, o que me conforta. Às vezes, vai parecer que nós três somos apenas uma fotografia e nada mais, mesmo que não seja o caso. Nós ainda estamos entrelaçados, mesmo que não moremos mais todos na mesma casa.
Escolher o divórcio foi de partir o coração para mim e para o teu pai. Não foi apenas que tivemos que reconhecer como todos estes anos de investimento um no outro não importassem. Que nós não demos certo, não importa quantas vezes nós tentamos. Não foi só a devastação financeira dos dois e as noites que passámos sentados na mesa da cozinha, a tentar chegar a um acordo sobre quem ficaria contigo em quais dias.
Passar pelo divórcio no último ano, quando tu tinhas 3 anos, significou acabar com a ideia de contos de fadas de várias maneiras e muito cedo para tu. E enquanto o divórcio é a única opção para nós, neste momento, e nós esperamos seguir em frente para criar lindas famílias recompostas para ti, é difícil, às vezes, saber que colocamos uma bala no teu coração. Às vezes, a coisa certa a fazer-se não é sempre a mais fácil ou a mais divertida.
Quando tu olhares para fotos antigas do nosso casamento, tu não irás lembrar-te das pessoas que verás nessas imagens. Eles parecerão alienígenas para ti, mas, de fato, nós fomos muito felizes. Nós fazemos tudo que está ao nosso alcance para cumprir as nossas metas quando se trata de ti, mesmo que a gente discuta de vez em quando. No fim do dia, quero que saibas que não houve alegria maior nas nossas vidas do que te trazer ao mundo.
Tu podes sentir-te parcialmente culpada pelo divórcio. É comum as crianças sentirem-se dessa forma. No entanto, deixa-me esclarecer agora mesmo. Tu és perfeitamente perfeita. Tu não tens nada a ver com o nosso divórcio. Mesmo que tu voasses e soprasses pó de pirlimpimpim em nós, eu e o teu pai não daríamos certo. Magia não é o suficiente para fazer isso acontecer. O divórcio teve tudo a ver com o que nós somos, o que nós acreditamos e o quão compatíveis nós somos… E nada a ver com o quão maravilhosa tu és. Mesmo se tu tivesses gritado o dia todo, todos os dias… Ateado fogo à nossa casa… Batido em nós até que ficássemos mal… O divórcio não tem nenhuma parcela de culpa sua.
Tu estás obcecada com contos de fadas e ainda acreditas que o príncipe salva a princesa em apuros. Conforme tu fores ficando mais velha, tu irás aprender rápido que não é uma mulher em apuros, e tu nem vais querer ser! Ninguém, além de tu mesma, pode se salvar. Até lá, continua a acreditar em finais felizes e para sempre felizes. Continua a esperar por potes de ouro no final de arco-íris. Sonha com a possibilidade de voar, com unicórnios, beijos mágicos e trols falantes. Nunca cedas o teu amor para uma tempestade… O desejo realizado. Está tudo certo em sonhar! Continua a imaginar, minha pequena.
E, quando chegar o momento de encontrares a felicidade, deixe outra pessoa ser a cereja do teu bolo, mas nunca deixes essa pessoa, seja ou homem ou mulher, como tu decidires, ser o bolo inteiro. Não te relaciones com outra pessoa para fazeres a tua vida melhor. Esse é o teu trabalho. Constrói uma vida que te faça feliz e traga felicidade ao teu mundo, convida essa pessoa para entrar, mas lembra-te: tu podes anular o convite. As pessoas não precisam ficar para sempre se não forem boas para ti. Proteje o teu coração e acredita em ti mesma, e, se encontrares alguém que não partilhe das tuas visões, procura uma companhia melhor.
Eu já sei que tu és uma mulher forte. Tu és a pessoa que, apenas com 2 anos de idade, podes dizer a um homem de 40 anos que ainda ‘não era sua vez’. Tu não tens medo de ninguém e tu éz forte. Houve vezes em que eu pensei ‘Não seria melhor se tu fosses um pouco mais sensível como eu’, e eu corrigi-me dizendo ‘Não. Obrigada Deus por tu não seres sensível como eu’. Tu és perfeita sendo tu mesma e serás tu mesma sem te desculpares por isso. Tu não vais ceder sobre o que pensas ou acreditas, mesmo que alguém queira que tu o faças. Homens ficarão com medo disso. Uma pena para eles! Nunca deixes de ser quem és para agradar alguém. Só há uma ‘tu’ e nós amamos-te desse jeito.
Filha, tu podes desejar, na tua cabeça, que nós fiquemos juntos de novo, e eu vou-te dizer, fica feliz que não estejamos. Os teus pais estão mais felizes separados, e não há nada pior do que viver sob o teto de dois pais miseráveis. Isso pode soar mal às vezes e ter duas casas não é algo agradável, mas nós prometemos que, mesmo que isso não pareça um final feliz hoje, daqui a alguns amanhãs, isso será. Às vezes, até eu me esqueço disso. Tu podes ver-me chorar aqui e ali, ainda que eu tente colocar uma expressão corajosa no rosto. Quero que saibas que não tem mal chorar, não tem mal fica de luto, mas segue sempre em frente e nunca deixes de acreditar.
Com amor,
Tua perfeitamente imperfeita mãe.”
Fonte: Pop Sugar