Ser Mãe não é um conto de fadas!

Desde o coito, começam as cobranças referentes à maternidade. Quando se descobre que está grávida, todos os tipos de julgamentos e pressões caem sobre você, quem nunca ouviu: “nossa, mas você é muito nova”, “o que você fez com a sua vida”, “porque não se preveniu?”, “nossa acabou com a vida do rapaz”, “e a faculdade”, “e a escola”, “vai ficar feia”, “engravidou porque quis”, “criou barriga de propósito”, “essa quer prender o cara”. Se você é lésbica, e decide ser mamã, então, deve ouvir: “nossa, mas achei que não gostasse de homem, “ta vendo, para isso homem presta né, só quando precisa”, “meu Deus o que vai ser dessa criança com a mãe sapatão”, e se for mãe adotante: “nossa, mas não cuida nem da própria vida, vai pegar filho dos outros para criar?”, “pega bebézinho viu, para ele não dar na sua cara e te roubar” essas são algumas das muitas falas, que nós ouvimos no momento que decidimos falar que “estou grávida”, “quero ter”, “quero adotar”.

Bem-vindas à maternidade!

Depois com o desenvolver da gestação, se você trabalha e precisa faltar por causa de alguma dor, ouve: “gravidez não é doença”, se você estuda, “quem mandou engravidar”, se você mora com seus pais, logo tem de casar, tem de formar sua família, “porque eu não vou criar filho de ninguém”, se você mora sozinha e é solteira, é taxada de –vadia- por sair dando por aí e ainda corre o risco, ou melhor, é acusada de não saber quem é o pai.

Durante os seguintes meses, o seu corpo muda, as suas hormonas dobram, a sua cabeça pira, ou você sente que fez a melhor escolha da sua vida, ou se arrepende de ter continuado, ou ainda nem se deu conta de que está carregando outro ser em você. Muitas se acham horríveis, não é para menos, é médico controlando o seu peso, é família fazendo comentários sobre os seus pés inchados, seu rabo enorme e os seus seios de “vaca leiteira”. A barriga cresce mais e você não consegue se abaixar nem para se depilar, colocar um sapato se tornou uma tarefa bem complicada, as hormonas continuam a mil, e, então você começa a pensar no parto.

Pesquisa qual o melhor para você, se deve ou não fazer plano de parto, se deve ou não, ter parto natural, normal ou cesariana… você pede opinião para seus familiares, eles dizem que a melhor opção é sempre a deles e nunca a sua, se é parto natural, acham que é coisa de hippie, se quer normal, você não tem força o suficiente, vai te “estragar” toda, se for cesariana, é porque você não é mulher suficiente para passar pela dor do parto, sabe o que é pior? Este tipo de julgamento acaba vindo de outras mães também, porque a sua escolha é sempre subjugada, todos sabem qual o melhor para o seu parto, menos você. E o companheiro? Ah, isso não é coisa para homem se meter, “eu só ajudo com coisas de homem”, eu só compro, ou “a minha mulher resolve”, se você é mãe solo(solteira), e sem condições, nem o tipo de parto você terá o privilégio de escolher, o único e melhor hospital da sua região é um açougue, mas você pede ajuda, e o que recebe em troca? Julgamentos.

O bebé nasceu, ufa!

Logo no hospital, você continua a sentir o peso da maternidade, ou melhor do que idealizam dela: “mãe, amamenta seu filho”, “mãe, dá banho no seu filho”, você com pontos da cesariana, não aguenta nem levantar, sente dor… se é parto normal, parece que é simples, mas não, porque você acabou de parir, tem de se recuperar, no outro dia, estará melhor, mas até ele chegar…

Então, você recebe visita, ganha presentes, mimos.. nananão.. você não existe mais, você agora é uma mãe, você é invisível para a sociedade, o seu papel é amamentar, limpar, dar banho para que outras pessoas possam pegar o seu filho no colo não respeitando os limites que você impôs para visita, você é anulada.

Chegando em casa, pensa: “nossa agora vou descansar”, vai nada linda, você tem de usar cinta, tem de se cuidar, acha que o seu marido vai te querer com a barriga flácida? segue essa dieta, toma esses sucos, não fica descabelada! O que vão pensar de você? Vão achar que você não tem controle sobre si, que não tem condições de criar uma criança. Agora você é mãe, descanso é uma palavra banida do seu vocabulário, tem de ser aquelas mães de comercial de margarina, linda, sorridente, magra.. ahh, uma mulher IDEAL!

Sexo? Ahhh, tem de fazer um oralzinho no esposo para ele não sair pegando nenhuma outra por ai, tem de deixar ele te apalpar, mesmo que os seus seios estejam duros de dor e os seus bicos rachados, porque mulher de verdade, serve ao marido e ponto! Sendo solteira ou não, sente a necessidade de estar linda, apertadinha, cheirosinha, se não como vou namorar depois?

Seu filho começa a alimentação, se você é vegana, ouve que não alimenta seu filho direito, que mulher irresponsável…sua metida!!  Se você é omnívora, está dando um cadáver para o seu filho, que horror.. que mãe desnaturada, se fosse eu, não daria isso.

Chegou a hora de voltar ao trabalho… mas você não pode voltar, e seu filho? com quem fica? mas, e agora? nossa como você é desnaturada, deixar uma criança tão novinha para trabalhar, você está abandonando o seu filho, como vai ser se ele crescer longe de você por algumas horas…? que absurdo.

Ah, vou ficar em casa, tenho condições, escolhi trabalhar de casa para ficar mais perto da minha cria… mas nossa como assim você fica em casa o dia todinho e ainda se sente cansada? Você tem muita mamata, ta reclamando de barriga cheia, não trabalha, não faz nada da vida e ainda reclama? Que tipo de mãe é você?

Meu filho chegou em idade escolar, vou deixá-lo na creche para trabalhar… nossa como assim você vai deixar seu filho em uma creche? nossa aquelas professoras são folgadas, desfraldam seu filho antes da hora, não respeitam a alimentação dele, você está largando o seu filho na mão de estranhos, como pode fazer isso? Quando ele crescer vai saber a péssima mãe que você é.

Estou tão cansada de casa, de filhos, eu queria sair um pouco, tomar uma cerveja com minhas amigas, namorar, vou fazer isso, eu preciso… Opaaa, não podeee, como assim? Você vai sair e deixar o seu filho com uma pessoa estranha para se divertir? O que? Quem mandou ter, agora assuma, ele é sua responsabilidade, é provável que arrume outra barriga se não se cuidar.

Eu queria que o meu filho morasse com o pai, eu não nasci para ser mãe, não aguento essa pressão toda em cima de mim… nossa, como assim? você ta loca, é? ABANDONAR o seu filho com o PAI dele? Essa criança vai ficar traumatizada porque você basicamente jogou ele fora.

Bom, acho que até aqui, podemos ter relembrado alguns momentos bem doloridos vividos por nós mães, desde o descobrimento da gravidez, até a idade escolar (isso porque não citamos as mães de adolescentes e de jovens), a gente passa por tantos julgamentos, por pressões, temos de sempre ser perfeitas, princesas, a mulher ideal para o mundo, somos anuladas, esquecidas.

As pessoas precisam aprender que não existe isso de “arruma filho quem quer”, quantos casos de mulheres que o o método contraceptivo falhou? muitos casos, e se por ventura tenha acontecido por descuido, o que menos essa mulher precisa é de julgamento, porque se ela aborta é um monstro sem coração, se ela tem, ainda é um monstro que não pensa no seu filho e o abandona na escola ou deixa alguns dias com o pai.

Ser mãe não é um mar de rosas, temos os nossos momentos de alegria, AMAMOS nossos filhos, não gostar e não aceitar a maternidade, não acreditar em “instindo materno”, não quer dizer que desprezamos nossos filhos, quer dizer que estamos cansadas, que precisamos ser lembradas, vistas, precisamos de presente, de carinho, não somos parideiras, somos mulheres que muitas vezes se anulam para sermos mães.

E se você, conhece alguma mãe, doe seu ombro, doe seu carinho, doe sua ajuda, ofereça para ficar com a cria enquanto ela toma um banho, enquanto faz a unha, ou equanto ela simplesmente precisa tirar um cochilo de 1 hora. Se você é amiga de alguma mãe, cuide dela, saia para lugares que seja acessível para levar o filho dela, não reclame que agora é diferente, que ela não é mais a mesma, ela realmente não é, mas lamentar isso, é total egoísmo, pense na sua amiga, ofereça sua amizade sincera. Se você é familiar, em vez de apontar o dedo, pergunte o que essa mulher precisa, o que ela quer que faça, como ela quer que faça, pitaco demais atrapalha a relação não apenas com a mãe, mas com a cria também.

Tenham empatia com mães, incluam mães e entendam que tudo o que passamos não é porques somos relaxadas, desnaturadas, mas porque estamos cansadas. Ser mãe, definitivamente não é um conto de fadas.

Fonte: Jo Uyara