Um dia vamos voltar a ser os dois, ou não, porque nunca mais vamos ser apenas dois, não vai haver volta ao que éramos antes de passarmos a três, quatro e cinco, e ainda bem que assim é, porque mesmo quando voltarmos a ser quase sempre os dois, vamos sempre continuar a ser cinco. Eu sei que ainda falta muito tempo, ou talvez não muito tempo mas apenas algum, e eu já dou comigo a pensar nisso, quando nos observo ao longe e às vezes de perto, penso, afastando o medo, que um dia, e talvez já não falte assim tanto tempo, vamos voltar a ser, quase sempre, apenas os dois.
Vamos ter silêncio demais e lembrarmo-nos das vezes que nos queixámos do barulho demais, vamos voltar a ter a cama só para os dois e saudades de ouvir os pezinhos pequenos, frios e descalços, a saberem de cor os passos para o meio de nós. Vamos ter mais tempo para ler os tão adiados livros mas ninguém a pedir-nos para contar uma história na cama, vamos ter menos migalhas no chão da cozinha, menos iogurtes no frigorífico e menos pratos na mesa, mais tempo para conversar e outro tanto para namorar e quem sabe até mais dinheiro e ainda mais vontade de viajar.
Mas enquanto somos cinco e estamos os cinco, eu só peço mais cinco beijinhos de boa noite, mais cinco abraços no pescoço (que é onde as crianças abraçam), mais cinco minutos a contempla-los quando adormecem (haverá melhor sensação que olhar para uma criança a dormir?), mais cinco dias de férias, mais cinco viagens os cinco, mais cinco pedidos de desejos por realizar, os cinco e a cinco.
Não esquecendo, no meio dos cinco, de nos cuidarmos aos dois, e de vivermos os cinco sem adiar os planos para os dois, para agora e depois. E que um dia, quando continuarmos a ser cinco, mas quase sempre formos dois, que seja nos cinco que encontremos a paz e a vontade de um regresso, nem que seja para um fim-de-semana ou um almoço de domingo, no rebuliço de todas as boas recordações e de todos os ralhos e trabalhos que agora reclamamos.
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Fonte: Blog O teu Tio Pedro