Epilepsia – O que é, causas, sintomas, tratamento

A Epilepsia
O que é a Epilepsia?

É uma doença que afecta o cérebro, caracterizada por descarga anormal de alguns ou todos os neurónios cerebrais. Expressa-se através de crises epilépticas recorrentes (duas ou mais), súbitas e imprevisíveis, incontroláveis pelo doente e com duração variável (geralmente entre alguns segundos a vários minutos).

A Epilepsia é comum?

A epilepsia é a disfunção do sistema nervoso mais comum, afectando cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, cerca de 40.000 a 70.000 pessoas sofrem desta doença. É a segunda causa de doença crónica na idade pediátrica.

Qual a causa da Epilepsia?

Em 60 a 70% dos doentes com epilepsia não é possível determinar uma causa. São doentes com formas de epilepsia designadas de idiopáticas ou primárias.

Por outro lado, qualquer lesão que atinja o cérebro seja ela um defeito presente ao nascimento ou adquirida (secundária a um traumatismo craniano ou infecção do sistema nervoso central, por exemplo), é um potencial ponto de origem para crises epilépticas. Estas são denominadas formas secundárias de epilepsia.

Como reconhecer uma crise epiléptica?

Existem vários tipos de crises epilépticas. Habitualmente as crises são facilmente reconhecidas pelos pais. Dependendo do tipo de crises, pode haver um ou mais dos seguintes sinais:

  • Olhar fixo (5-10 segundos), sem resposta à estimulação;
  • Perda súbita da força muscular com queda;
  • Pestanejo rápido ou revulsão ocular;
  • Movimentos da boca (mastigação) ou da face;
  • Movimentos rítmicos (“estrebuchar”) de todo ou parte do corpo;
  • Perda de urina / fezes;
  • Mordedura língua / bochecha;
  • Perda de consciência com queda;
  • Comportamento confuso, sem objectivo.

As crianças sentem dor quando têm uma crise?

Não.

O cérebro sofre com as crises?

Crises muito prolongadas ou muito frequentes podem condicionar sofrimento cerebral. Daí a importância de cumprir rigorosamente a medicação.

Que médico devo consultar se o meu filho tem epilepsia e que exames devem ser realizados para comprovar o diagnóstico?

Além do Médico Assistente (Médico de Família ou Pediatra), o seu filho deve ser avaliado por um médico especializado em Neuropediatria.

O diagnóstico de epilepsia é feito essencialmente pela entrevista clínica. A descrição das crises é na maior parte das vezes suficiente para o médico fazer o diagnóstico de epilepsia.

Contudo, o médico tem por vezes necessidade de recorrer a exames que o ajudam a classificar ou determinar com mais rigor a possível causa de alguns tipos de crises. O electroencefalograma constitui o exame mais adequado para o efeito.

Este teste envolve a aplicação de uma série de eléctrodos na cabeça para detecção da actividade eléctrica cerebral. No entanto, o electroencefalograma pode ser normal em crianças com epilepsia e, por outro lado, pode mostrar alterações em doentes sem epilepsia.

De acordo com a situação clínica, para esclarecer a causa, o médico poderá necessitar de pedir exames imagiológicos (TAC cerebral; Ressonância magnética cerebral) ou outros.

Qual o tratamento?

Há vários medicamentos usados para o tratamento de epilepsia (fármacos antiepiléticos). Por vezes são necessárias várias tentativas para encontrar o(s) medicamento(s) certos para o controlo das crises. Em casos específicos, em que a medicação não permite um controlo adequado das crises, pode ser benéfico optar pelo início de uma dieta especial (dieta cetogénica) ou pode estar indicado um tratamento cirúrgico.

Que factores podem contribuir para desencadear as crises?

Embora a maioria das crises não tenha factores desencadeantes identificáveis, algumas situações podem aumentar o risco de sofrer crises, com o sejam:

  • Falha de toma de medicação;
  • Estímulos luminosos;
  • Febre / Infecções;
  • Consumo de álcool;
  • Cansaço físico e mental/stress;
  • Sons bruscos;
  • Privação de sono;
  • Alterações menstruais.

A epilepsia é igual em todos os doentes?

  • Não. Além das diferentes causas de que falamos atrás, a epilepsia pode manifestar-se com crises de características diferentes. Além disso, as epilepsias são também diferentes na frequência com que as crises se repetem e na facilidade com que são controladas.

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Convulsões Febris

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O meu Filho/a…

Terá esta doença para sempre?

Não necessariamente. Estudos demonstram que 70 a 80% dos doentes tratados têm remissões prolongadas ou permanentes.

Esqueci-me de dar os anti-epilépticos. O que devo fazer?

Deve retomar o esquema de medicação assim que possível.

  • Se faz apenas uma toma diária, deve tomar o fármaco assim que se lembrar;
  • Se se lembrar apenas no dia seguinte deve fazer uma única dose (não dobrar as doses a não se que tenha sido instruído para isso pelo seu médico)
  • Se a criança faz 2-4 tomas por dia deve-se ajustar as doses de modo a permanecerem espaçadas.

Tem epilepsia mas após a medicação vomitou. O que fazer?

  • Se o vómito ocorrer até 1 hora após a toma, a criança deve repetir a toma. Após esta altura, alguns dos fármacos já atingiram o seu pico de concentração pelo que a decisão deve ser individualizada e discutida com o seu médico.
  • Se o seu filho tem vómitos incoercíveis, deve dirigir-se ao hospital pois pode ser necessário iniciar tratamento endovenoso.

Hoje fez medicação anti-epiléptica 2 vezes. O que devo fazer?

Ao fazer 2 tomas, os níveis sanguíneos dos fármacos aumentam mas ainda são seguros. Não deve administrar a dose seguinte. Se houve ingestão de concentrações mais elevadas do medicamento, o seu filho deverá ser observado no Hospital, tendo em conta o risco de intoxicação.

Tem epilepsia e vai ser operado amanhã. Deve fazer a medicação?

Sim, deve ser dada a medicação nas doses habituais.

Precisa fazer análises para verificar os níveis de medicação?

A monitorização de rotina dos fármacos anti-convulsivantes não está recomendada. Contudo, em casos de agravamento das crises ou aparecimento de sinais ou sintomas de toxicidade ou nas crianças com doença renal ou hepática será desejável a monitorização dos níveis sanguíneos do fármaco.

Precisa fazer análises sanguíneas de rotina?

Deverá fazer um estudo analítico antes do início do tratamento. É conveniente repetir o estudo 3 meses após início do tratamento e depois a cada 1-2 anos.

Deixou de ter crises. Posso parar a medicação?

Não. A paragem brusca da medicação anti-epiléptica pode aumentar a severidade e a frequência das crises. Esta é uma decisão que deve ser sempre tomada pelo médico e feita de forma gradual.

Perguntas Frequentes

Que devo fazer se o meu filho tiver uma crise?

  1. Mantenha-se calmo. A maioria das crises dura 1-3 minutos, não necessitando de recorrer ao Serviço de Urgência;
  2. Previna traumatismos, movendo os objectos que estejam perto;
  3. Deite a criança de lado voltada para a esquerda, no chão ou na cama;
  4. Desaperte-lhe a roupa em volta do pescoço;
  5. Coloque algo mole sob cabeça da criança (o seu casaco, por exemplo);
  6. Não coloque nada na boca da criança;
  7. Observe atentamente a crise: duração, características;
  8. Se o médico prescreveu StesolidÒ rectal, use-o se a convulsão não parar ao fim de 3 minutos;
  9. Após a crise a criança fica sonolenta e confusa. Não a perturbe, fique a vigiá-la até que recupere totalmente.

O que não fazer durante uma crise?

  • Não tentar contrariar as convulsões usando a força;
  • Não colocar objectos ou as mãos na boca da criança;
  • Não atirar água à criança, não sacudi-la nem dar-lhe palmadinhas;
  • Não dar água, medicação oral ou comida até a criança estar completamente acordada.

Quando devo levar o meu filho ao Hospital?

  • Se é o 1º episódio de crise epiléptica;
  • Se a crise dura mais do que 5 minutos;
  • Se a criança tem várias crises (sem recuperação da consciência);
  • Se após a crise a criança não acorda; se verificar dificuldade respiratória
  • Se há um agravamento do número ou duração das crises;
  • Se a criança tem patologia cardíaca ou diabetes;
  • Se a criança se magoa durante a crise;
  • Se a crise ocorrer na água.

Depois de uma crise, devo contar ao meu filho o que aconteceu?

Se ele perguntar deve explicar, de acordo com sua idade, que ele teve uma crise.

Tendo epilepsia, o meu filho poderá ter uma vida normal?

Sim. A maioria das crianças com epilepsia tem uma vida normal. Várias pessoas famosas viveram com epilepsia sem que a doença influenciasse o seu sucesso. Entre estas destacam-se algumas personalidades: Julio Cesar ; Isaac Newton; Agatha Chiristie; Alfred Nobel; Charles Dickens; Van Gogh.

O meu filho pode ser vacinado?

Pode e deve ser vacinado como as outras crianças.

Em casa, o meu filho pode…

… dormir sozinho?

Pode e deve. É importante retirar do quarto objectos potencialmente perigosos. Nos casos em que existe risco de cair da cama, deve optar por uma cama mais baixa. Se as crises são particularmente frequentes durante o sono deve deixar a porta do quarto aberta e pode ser útil o uso de “intercomunicadores”.

… tomar banho de imersão?

É preferível tomar banho de chuveiro. Contudo, se as crises estiveram controladas, pode tomar banho de imersão, sempre sob vigilância de um adulto.

… ir sozinho à casa-de-banho?

Sim, mas são necessárias algumas precauções:

  • Nunca fechar a porta do quarto-banho à chave;
  • Retirar objectos potencialmente perigosos;
  • A porta da casa-de-banho deve abrir para o exterior.

… ver televisão ou jogar no computador?

Em algumas crianças (3-5%), o trémulo da TV ou do ecran do computador pode aumentar a excitabilidade das células cerebrais e desencadear crises (Fotosensibilidade). Nestes casos, é prudente seguir alguns conselhos:

  • Não permita que a criança passe muito tempo em frente ao ecran;
  • Não a deixe sentar-se muito perto (2,5 m TV; 30 cm computador);
  • Prefira ecrans pequenos;
  • A sala não deve ser muito escurecida; coloque lâmpadas perto da TV/computador
  • Mude os canais no telecomando e não nos botões da Televisão;
  • Se sinais de cansaço deve desligar-se a TV/computador;
  • Pode colocar um filtro se a frequência das luzes se encontra entre 5-30 Hertz

Na escola…

… o meu filho pode frequentar o infantário?

A criança com epilepsia deve frequentar a escola como qualquer outra criança da sua idade. Deve iniciar o infantário para integração precoce num grupo de crianças da sua idade.

… o que devo dizer aos amigos e professores do meu filho?

Actualmente, com o uso de fármacos anti-epilépticos, a maioria das crianças com epilepsia fica sem crises ou apenas as tem raramente, permitindo que participem normalmente nas actividades escolares. Contudo, as crianças que continuam a ter crises podem ter problemas na escola como:

  • Baixa auto-estima;
  • Sofrer discriminação “serem gozadas”;
  • Isolamento dos colegas;
  • Baixo rendimento escolar.

Apesar de ser uma doença frequente, maioria das pessoas sabe muito pouco sobre epilepsia. É importante explicar aos professores e amigos do seu filho o que é a epilepsia e o que devem fazer perante a ocorrência de uma crise. Esta atitude vai permitir que a criança esteja mais segura e se sinta mais confortável, com melhor integração no meio escolar. Falar abertamente sobre a epilepsia pode ajudar a combater alguns medos e estigmas acerca da doença.

… o meu filho vai ter dificuldades de aprendizagem?

A epilepsia não leva inevitavelmente à perda de capacidades cognitivas. A maioria das crianças tem um QI normal e aprende bem. Contudo, algumas apresentam problemas de aprendizagem, relacionados com vários factores:

  • Medicação anti-epiléptica (alguns fármacos podem provocar sonolência que pode interferir com o desempenho escolar);
  • Absentismo escolar por crises frequentes;
  • Crises nocturnas, ao interferirem com o sono, podem perturbar a aprendizagem;
  • Crises de ausências frequentes podem interferir com a atenção;
  • Longos períodos de ausência da escola devido a testes médicos, internamentos e tratamentos;
  • Ansiedade e baixa auto-estima da criança;
  • Baixa expectativa dos pais e professores em relação à criança.

Por seu lado, alguns tipos de epilepsia podem, por si só, estar associadas a atrasos do desenvolvimento com dificuldades de aprendizagem e memória. Nestes casos, pode ser necessário/aconselhável optar por um currículo adaptado (Ensino especial).

… posso insistir com ele para estudar?

Sim, ele é como qualquer criança e tem preguiça para estudar. Faça intervalos frequentes para evitar o cansaço mental.

A epilepsia e o desporto…

Tendo epilepsia, o meu filho pode praticar desporto?

O exercício físico e o desporto devem ser praticados por todas as crianças. A criança com epilepsia não deve ser impedida de os praticar pois melhora a auto-confiança, exercita a obediência às regras, a aceitação da derrota e o gosto pelo sucesso e favorece o convívio com outras crianças.
Contudo, devem ser evitados desportos onde haja risco de quedas ou traumatismos ou onde sejam usados equipamentos potencialmente perigosos (exemplo: esgrima). A prática de mergulho é contra-indicada.

Algumas dicas:

  • NATAÇÃO: A criança deve estar sempre sob a supervisão de um adulto que conheça a doença do seu filho. O uso de toucas de “cor garrida” facilita esta supervisão. No caso de crises muito frequentes, a criança deve usar colete salva-vidas.
  • BICICLETA: Como qualquer outra criança, deve usar sempre capacete. É aconselhável andar afastado de lugares com muito tráfego.
  • DESPORTOS DE CONTACTO (futebol, basquetebol, voleibol, hoquei …): São geralmente seguros. Deve ter-se particular cuidado para evitar traumatismos.

Como devo lidar com o meu filho no dia-a-dia e ajudá-lo a não se sentir uma criança diferente?

  • A melhor forma de ajudar a criança é aceitar a doença.
    O seu filho deve ser tratado como as outras crianças… Deve ser castigado quando necessário e mimado/elogiado quando merece. Evite a superprotecção! Mantenha as actividades e tradições familiares.
    Deve falar abertamente com o seu filho sobre epilepsia e incentivá-lo a falar sobre a doença com os amigos, familiares e professores.

Alguns conselhos importantes:

  • Assegure-se que a criança toma a medicação como foi receitada; compre um caixa de medicação na farmácia (de preferência transparente) para introduzir a medicação de uma semana. Esta caixa deverá ir para a mesa das refeições e permite verificar se uma das tomas não foi feita
  • Preencha um calendário de crises (nº de crises, características, duração, necessidade de administrar medicação S.O.S)
  • A mochila do seu filho deve ter um documento que indique que ele tem epilepsia e onde estará anotado um número de telefone, para ser contactado em caso de necessidade.
  • Tente identificar as situações que facilitam a ocorrência de crises de forma a poder evitálas;
  • O seu filho deve ter uma vida regular, deitando-se, levantando-se e tendo refeições a horas certas;
  • A alimentação deve ser equilibrada e adaptada à idade.

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