E se as creches fechassem às 5?

Era tão bom que pudéssemos assumir a família como a prioridade que ela é…

Existe um dia para comemorar o Dia da Família. Nesse dia, haverá, como de costume, frases a favor da família. Actos simbólicos referindo a família como “célula da sociedade”. E toda a gente a referir a função, inimitável e imprescindível, da família no desenvolvimento de todos nós. É claro que o que ninguém nos explica é como é suposto uma família da classe média com 2 ou 3 filhos entre os 0 e os 6 anos fazer quando alguns infantários custam mais do que qualquer universidade privada. Ou porque é que as deduções de custos de um filho no contexto do IRS nos levam a sentir que, aos olhos do Estado, afinal, as crianças talvez não custem entre 26 e 74€ por dia. Deveríamos, antes, educá-las nas “lojas dos 300”.

Não tardará muito e estaremos todos a comemorar o Dia da Família. E ninguém irá referir que as crianças passarão 8 a 10h, por dia, nos berçários. Às vezes, com 1m2 para cada uma. Sem que ninguém pareça reparar que isso as torna mais doentes. E ninguém irá lembrar-se que há creches que funcionam 24h por dia, 7 dias por semana. E que passam, unicamente, 10% do tempo que estão nos infantários ao ar livre. Com desmazelos assim, as creches e os infantários estragam as crianças! E comprometem, à partida, o direito que todas têm de ter um desenvolvimento saudável.

Não tardará muito e estaremos todos a comemorar o Dia da Família. E era bom – muito bom! – que o Dia da Família passasse a ser feriado nacional. Seria uma forma simbólica de discutirmos a família e de assumirmos que os valores que ela representa e nos traz não são uma questão de “direita”; são uma urgência para todos. E, já agora, era fundamental que assumíssemos que, se queremos pensar no crescimento saudável dos nossos filhos, devíamos – com realismo, com bom senso e com coragem – assumir que ninguém descansará até ao dia em que os berçários e os infantários encerrem às 17h. Com o espaço por criança, nas creches e no infantários, a crescer de acordo com aquilo, a que todas as crianças têm direito. Onde o ar livre seja um direito inalienável, que tem de ser muitíssimo superior aquele que elas têm. Onde brincar com o corpo seja a regra, para todas, e nunca a excepção. E onde deixe de existir uma clivagem – sem sentido – entre o ensino obrigatório e a educação infantil, a bem da relação de todas elas com a família, com a escola e com o futuro.

Não tardará muito e estaremos todos a comemorar o Dia da Família. E era bom que nos fossemos tornando um Estado amigo da família e das crianças. Porque sem ele o futuro vai, já hoje, deixando de ter um rosto humano.

Fonte: EduardoSa