Carta para a minha filha sobre o meu regresso ao trabalho

Minha querida filha,

Já faz quase 8 anos que eu deixei o meu trabalho a tempo inteiro para ficar ao teu lado. Fiquei feliz em cada marco teu, desde o teu primeiro banho até o momento em que experimentaste comidas sólidas pela primeira vez. Eu fui abençoada por poder trabalhar como freelancer, datilografando num escritório por baixo do teu quarto, enquanto tu dormias no teu berço.

Eu não tinha um plano a longo prazo enquanto te levava ao musical Munchkins, te perseguia por playgrounds nas tardes de verão, entregava os cartões da tua festa de São Valentin na pré-escola. Talvez eu tenha pensado que a vida seria sempre assim: correndo de um parque iluminado para o outro, fazendo um trabalho como freelancer de vez em quando. Nós duas contra o mundo.

Talvez eu sempre soube que isso não duraria para sempre.

A vida muda. A realidade vem de encontro a nós. Eu sei que tu não consegues entender isso agora, mas, às vezes, como mãe, a definição de “estar lá para a sua família” muda.

Eu sei que tu está assustada. Depois de 8 anos, a tua pedra, a tua âncora no meio de todas as mudanças, está  de regresso ao trabalho a uma hora de distância de casa, deixando o que parece ser um vazio inculto no seu lugar. Eu entendo este sentimento, porque, mesmo eu sendo a adulta da equação, tu também tens sido a minha força nos últimos 8 anos.

Existem tantas coisas que eu não sei como te explicar.

Eu poderia dizer-te que também estou com medo. Estive ausente por muito tempo e, embora que saiba que não vai demorar muito para que eu quebre essa distância, sentada aqui, agora, encarando essa mudança, consigo sentir o tamanho dela. Enquanto eu estive ausente, todo mundo continuou seguindo em frente. Mas é o teu amor, a tua crença em mim, que faz com que eu tenha força para pular dentro desta corrida de novo.

Eu poderia dizer-te que me sinto culpada. Porque tem uma parte de mim que está animada. Essas partes de mim que estão animadas por trabalhar com colegas; a adrenalina da constante pressão todos os dias; ser parte do mundo lá fora, vestindo algo que não pijamas. Tudo isso me parece uma antiga e familiar canção. Como se eu tivesse acordado de um sonho e tivesse voltando ao mundo que eu conhecia, voltando a uma vida que parte de mim sempre pertenceu.

Eu poderia dizer-te que não consigo parar de pensar em ti. Mesmo nos meus mais entusiasmados sonhos de trabalho, meu coração volta até ti. Eu já até fiz as contas dos meus dias de férias. A tuas brincadeiras de primavera. A tua reunião de pais e professores. O teu primeiro dia de aula. Aquele momento em que eu vou sair do trabalho à noite para apanhar o comboio que me levará até ti. Nunca haverá vislumbres suficientes de teu sorriso. Nunca haverá o suficiente da música de tua voz fugaz de garotinha. Nunca haverá tempo suficiente.

Como posso  explicar-te tudo isso? Eu sei que tu ficarás bem, com o teu pai, teus avós, teus programas de amigas depois da escola. Mas eu sei que tu sentes cada pedaço desta separação iminente, porque eu também sinto. Mas eu também sei que tu és como eu. Nós damos 100% de nós mesmas. Nos perderemos nos  nossos dias ocupados e caóticos, e sentiremos o desgosto de tudo o que perdemos quando estivermos reunidas. Empurra e puxa todos os dias até que isso pareça normal.

Sim, nos próximos meses isso será o novo normal. tu brincando com os teus amigos, depois da escola, até que o papá vá buscar-te, excitada com uma minhoca que descobriu no parque. Eu, a gerir uma dúzia de tarefas do trabalho, cheia de histórias que não verei a hora de te contar (nenhuma com que tu te vás importar). E esses 8 anos de união feliz, pontuada apenas pelo sinal da escola, vai parecer uma memória bonita e distante.

Eu poderia dizer-te que o “novo normal” me conforta e me entristece ao mesmo tempo, mas eu preferiria apenas segurar-te e dizer que vai ficar tudo bem. Porque nós somos mais fortes do que qualquer distância entre nós. Porque, onde quer que tu vás, eu estarei contigo.

Porque, não importa o quanto a vida mude – e isso acontecerá sempre -, ainda serei eu e tu contra o mundo.

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Fonte: MommyAtoZ